São tempos difíceis pra quem gosta de amar e falar de amor.
Eu acredito que o amor chega preenchendo espaços vazios. Na terça a tarde, na padaria a gente se distraí e quando vê, ama.
Já o ódio é sentimento compensatório. Você odeia a falta. O ódio tem a ver com extirpação. Uma espécie de luto. O ódio, as vezes é o que fica no lugar quando arrancam a esperança que a gente tinha do melhor que a vida pode ser.
Eu quero confessar que nesse momento, estou sentindo muito ódio e não conseguia me perdoar por sentir isso.
Até que entendi que ódio é sentimento de quem não estava vazio. Ódio é sentimento de quem não estava só indo por ir, fazendo por fazer. Ódio é sentimento de quem amava e foi proibido de amar.
O amor é capaz de preencher o vazio das coisas: você estava distraído e o amor chegou.
O ódio é sentimento substituto.
Você sentia outra coisa e quando ela lhe foi negada, só te restou o direito de odiar.
E a todo o amor que eu tinha pra entregar, e que agora não posso, só sobrou a chance do ódio.
Sabendo da toxidade desse sentimento, da ignorância que é odiar em um mundo cheio de odiadores, estou tentando me distrair pra ver se o amor volta.
Escrevo, leio, vejo filmes, cozinho, tomo cafés com bons amigos e faço planos. Planejo o futuro sabendo que no meu futuro não tenho mais aquele objeto de amor que tinha no passado.
O amor não falta. O destinatário é que precisa ser reencontrado.
Enquanto não me distrair o suficiente pra encontrar o amor, permitam que eu sinta um pouco de ódio. Só dessa vez. Me deixem odiar. Me deixem ser mais fígado do que coração.
Até que o vazio volte.
Até que eu perceba o vazio e consiga finalmente, me distrair, me perdoem por odiar.
O ódio é temporário.